Acessibilidade dependente. Apenas cumprindo normas, mas sem oferecer a melhor solução.

por | 5 ago, 2019 | Turismo Adaptado | 2 Comentários

Acessibilidade dependente. A acessibilidade muitas vezes é feita, porém em muitas vezes não oferece autonomia. Na maioria das vezes é pura falta de planejamento e fazer a escolha certa de equipamentos ou soluções.

A loja de departamentos esportivos Decathlon, por exemplo, é uma rede internacional com lojas de grande enormes, o que mostra que espaço não é problema. Também pelo grande porte de suas lojas e da própria rede, dinheiro também não é problema. O grande problema é fazer a coisa do jeito certo,

Tenho certeza que “profissionais” foram contratados para estruturar a acessibilidade no local, mas pelas falhas encontradas é perceptível a falta de experiência e relacionamento com os clientes que necessitam das facilidades de acessibilidade, criando uma acessibilidade dependente. Esses problemas não ocorreriam se houvesse entendimento prático das necessidades das pessoas com deficiência, e as melhores opções de soluções, método que eu coloco na minha consultoria (Ricardo Shimosakai), onde chamo de acessibilidade funcional.

Aqui vou focar mais na questão de entrar no estabelecimento, mas como já foi dito, há diversas falhas espalhadas pela loja. Nesta loja em particular, a Decathlon Paulista, localizada na região da Paulista em São Paulo, a entrada principal é através de escada com degraus fixos ou escada rolante. Existe uma sinalização indicando “acesso pelo elevador do Top Center”, porém ele é muito pequeno, sem destaque e colocado num lugar de difícil visualização. A sinalização fica praticamente dentro do local, e um cadeirante que olha essa entrada e vê as escadas, já sabe que é acessível para ele e nem chega a entrar.

Mas após ir até o elevador do Shopping Top Center, e descer até o pavimento onde se encontra a loja, percebemos que este ainda não é exatamente o nível do piso, ainda há um lance de três degraus. Não vou questionar porquê o elevador não poderia parar no nível do piso da loja, pois isso precisaria de um estudo mais detalhado. Então vou considerar que isso não foi possível.

Para fornecer acesso entre esses dois patamares, foi colocado uma plataforma. Esta plataforma é operada pelo segurança que fica ao lado das escadas. Essa acessibilidade dependente não dá autonomia à pessoa, de subir e descer sozinho sem pedir ajuda, fato que causa constrangimento e irritação para algumas pessoas, por terem um tratamento diferenciado não inclusivo, o que é muito ruim.

Na foto abaixo, tirada em uma outra ocasião, você pode perceber que a porta da plataforma feita de vidro, na parte inferior, está quebrada. Foi uma tentativa de fazer um equipamento esteticamente mais agradável, mas colocar uma porta com um material frágil como vidro não é a melhor opção, pois as partes rígidas das cadeiras de rodas podem bater na porta, causando esse tipo de acidente. Na parte inferior, ainda há outro desnível entre o piso e a plataforma com uma pequena rampa, muito curta e inclinada, o que dificulta o acesso ou pode até impedir alguns modelos de cadeira motorizada.

Mas como um consultor experiente, eu digo que optar pela plataforma foi uma escolha muito ruim. Primeiro por causar dependência e necessitar de constante manutenção ou reparos. Caso a plataforma quebre, não existe outra opção de entrada e saída acessível, e isso também deve ser prestado atenção na questão de segurança, numa emergência por exemplo, a pessoa ficaria presa.

Felizmente não foi o caso da loja, mas em alguns lugares com a mesma opção, não existem funcionários que fique junto à plataforma, então é preciso sair procurando um funcionário, pois também na maioria das vezes não existe um sistema de chamada como campainha. Além disso, os funcionários precisam estar muito bem treinados, pois quantas vezes eu já passei por situação onde a pessoa não se lembrava mais como operar o equipamento.

Mas o mais grave, é a constatação de que existe espaço suficiente para ter colocado uma rampa. Isso eliminaria a maioria dos problemas citados anteriormente, como dependência, manutenção, operação entre outros. Além disso, melhoraria a autonomia também para cegos. Para o lojista, o custo teria sido muito menor, e a praticidade para o cliente seria muito maior. O projeto não está errado, apesar de algumas falhas, mas não foi a melhor opção. Por isso insisto que, infelizmente a maioria dos arquitetos não estão preparados para projetar acessibilidade, e cumprem (quando conseguem) apenas aquilo que consta em normas, e que em muitas vezes resultam na acessibilidade dependente comentada.

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2 Comentários

  1. Marcos Augusto Domaneschi

    Ótima reportagem. Aguardaremos as mesmas observações de outras lojas e locais públicos.

  2. Ricardo Shimosakai

    Tenho feito avaliações de vários lugares e situações. Mas eu não consigo mudar tudo sozinho de uma vez. Mas nesse caso, uma consultoria para a rede de lojas, poderia adequar todas as lojas. E também estou elaborando cursos, para que as empresas aprendam como se deve fazer, e passem a fazer sozinhas

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