Esta matéria foi escrita por escrita por Cristiane Sinatura e publicada pela revista Viajar, edição n°34, de Maio de 2012, páginas 44 e 45. www.revistaviajar.com.br

Quando Ricardo Shimosakai e Andréa Schwarz, viajantes inveterados, perderam os movimentos das pernas, eles poderiam ter se revoltado. Poderiam praguejar pelo resto da vida. Mas não: logo entenderam que estar em uma cadeira de rodas não significa ficar preso. E resolveram que continuariam

viajando, agora sobre duas rodas. Mais que isso: decidiram mostrar àqueles que têm algum tipo de deficiência que não é preciso se privar do prazer de sair pelo mundo.

Ricardo, que aos 33 anos levou um tiro em um seqüestro relâmpago, fundou a Turismo Adaptado, empresa especializada em agenciar viagens para portadores de qualquer tipo de necessidade especial. Andrea, vítima de um problema congênito na medula, que só se manifestou aos 22 anos de idade, lançou o Guia Brasil Para Todos, que mapeia 10 capitais e seus pontos turísticos sob o ponto de vista da acessibilidade.

Ou seja: dá, sim, para conhecer o que há lá fora, seja por terra, por água ou pelo ar. “Bastar estar disposto a enfrentar eventuais dificuldades”, diz Ricardo, que é bacharel em Turismo pela Universidade Anhembi-Morumbi. Para Andrea, o fator decisivo é o planejamento. É essencial pesquisar muito. Em geral, pode-se comprar pacotes nas agências convencionais, que providenciam acomodações e transfer adaptados, mas Andrea prefere botar a mão na massa. Ela monta seus roteiros com os filhos e faz as reservas. “Afinal,

ninguém melhor que você mesmo para saber suas necessidades”, afirma.

Ao planejar a viagem, o importante é pensar nos detalhes. As companhias aéreas, por exemplo, estão se adequando. Nem todos sabem, mas, quando se comprova que o passageiro depende de outra pessoa para garantir seu bem-estar e segurança, muitas delas garantem 80% de desconto na passagem do acompanhante. Os deficientes visuais, por sua vez, podem viajar com cão-guia na cabine de passageiros, sem tarifa adicional, desde que o animal tenha certificado de treinamento e de vacinas e esteja devidamente identificado.

E todas as companhias devem oferecer cadeira de rodas para que o passageiro se locomova até o embarque, já que muitas vezes a do próprio viajante precisa ser despachada – se não couber dentro da cabine. Os cruzeiros também tem se tornado boas opções. Para começar, porque eles dispensam toda aquela pesquisa que o viajante precisaria fazer sobre acessibilidade em hotéis, museus e atrações turísticas.

Mas é essencial consultar a companhia e verificar a “idade” de cada navio. Razão: os mais modernos têm cabines adaptadas. Só na frota da MSC, por exemplo, são 174 acomodações especiais. Alguns navios têm corredores largos, lugares reservados para cadeirantes nos teatros, bem como placas em braile espalhadas pelos conveses. MSC Cruzeiros, Costa e Royal Caribbean são companhias que investiram nesse segmento recentemente.

Para quem preferir por uma viagem em terra, além da agência Turismo Adaptado, de Ricardo Shimosakai, existe ainda aqui no Brasil a Accessible Tour, sem contar as pequenas empresas locais com opções especificas de passeios (veja quadro). O município de Socorro, a 135 km de São Paulo, concentra boa parte delas. Conhecido pela prática de esportes de aventura, como rafting, rapel e asa-delta, esse lugar serve hoje como referência em acessibilidade para as comissões organizadoras da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro. Ali é possível encontrar agências que oferecem atividades adaptadas a quase todos os tipos de deficiências. A tirolesa e o rafting são as mais procuradas. No mesmo caminho estão outras duas cidades ecoturísticas: Brotas (SP) e Bonito (MS). Nelas, a aventura está apenas começando para os turistas com necessidades especiais.

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